Design Thinking e Gestão de Projetos: modelos mentais para escalar o Everest.

Design Thinking, com licença poética, é um “modelo mental para solucionar problemas com métodos de design”. 

Design é DESÍGNIO, que por sua vez é projeto, plano, propósito. 

Designers desenham MAPAS para atingir os resultados, com destinatários, estrutura, meios e metas intermediárias de entregas e prazos. Parece Gestão de Projetos, e no final é.  

Qual é então a diferença, além do preço dos cursos? O modelo mental. 

gestor de projeto com modelo mental de designer, daí “protototipam” as opções de resposta, aprendem com os testes dos protótipos, escolhem um caminho e caminham. As ferramentas que Design Thinking emprega, permitem que você DESENHE O MAPA e um check list para FAZER O CAMINHO

Chamo este Mapa de “Design da Jornada”. 

Eu gosto de comparar “Jornadas de Melhorias” (implantar um negócio, um processo, reformar um espaço, substituir uma tecnologia, inventar, etc.) a escaladas. 

Você escolhe SEU Everest, planeja, prepara-se e sobe. MAPA e PLANO de ESCALADA são cruciais para definir as chances de subir e principalmente de descer vivo. Mas subidas e descidas, na vida real, são sempre mais divertidas do que o Design da Jornada

Se você escolhe “um Everest” e pergunta o melhor caminho para o cartógrafo, ele explica, com base no mapa que preparou consultando o Google, outros mapas e relatos de quem já desceu — Ele mesmo nunca escalou. 

Se você perguntar ao SHERPA, nativo do Nepal que guia os expedicionários, ele usa o mapa, mas o mais importante é que põe a mochila nas costas e sobe e desce junto. 

Um desenha o mapa, o outro – que já subiu e desceu “N” vezes – vive com você cada centímetro do território que JÁ MAPEOU, com neve, sol, vento, avalanche, pouco oxigênio e ração. Quem você escolheria para fazer a jornada?

Imagem da Internet.

Esse respeito pelo CONHECIMENTO acumulado, depois destruído e reconstruído pelo FAZER é um dos principais pilares do DESIGN THINKING.  

Como os SHERPAS, que tanto admiro por aliar teoria e prática, acho graça em ver projetos detalhados por pessoas que não gostam de sujar os sapatos nas obras. 

Ou que AINDA insistem em gestão de projetos com base nos conflitos pueris entre os projetistas e construtores, e destes com os instaladores de equipamentos, mobiliários, ativos de TI. 

E que dão respostas aos usuários cuidadores, de bata branca e bata verde, mas NÃO perguntam e nem especulam o que os usuários que pagam a conta querem: pacientes e acompanhantes nunca estão nas agendas de reuniões para implantar uma reforma ou um novo empreendimento. 

Eu, com 66 anos — já avisando que trabalharei até os 107 — saúdo a revalorização de gente com modelos mentais e atitude de “por a mão na massa” para solucionar problemas. 

Projetistas que “não se arriscam a construir” ficam nos desenhos talvez lindos, mas “não solucionam lindamente os problemas dos usuários”. 

Construtores que não respeitam projetos são malucos com iniciativa ou aproveitadores oportunistas das falhas e omissões que existem, sim, em alguns, projetos para arrancar aditivos evitáveis. 

Teóricos que desenvolvem planos de negócios sem nunca ter dirigido uma organização, nem testados para ultrapassar na subida, com pouco motor e pneus carecas, não tem moral para lhe dar conselhos. 

Consultores que dizem conhecer processos e capacitar as equipes para melhorias, sem atuar no dia a dia dos ambientes de saúde, são ternos vazios, empreendedores, sem mapa de risco nem Plano de Negócios — como eu mesmo já fui, há décadas atrás — definem a escala do risco pela própria estatura e não pelo tamanho do Everest que escolhem.  

3D do Leito do Hospital Unimed Leste Fluminense — Acervo L+M.

Zé Maria Orlando coordenou um livro sobre integração de conhecimentos para entregar UTIS Contemporâneas aos Usuários. Num dos capítulos, escrevi minhas opiniões sobre desejos, necessidades e expectativas de um usuário no leito de UTI. 

Permitam-me compartilhar: 

“Há Dolores, Tiagos e Daniéis, eles têm nome e gostam de ser chamados pelo nome e podem ser filho, pai, amante, tio, avó de alguém. Desorientado, cada um deles se sentiria melhor e mais seguro se PUDESSEM

Enquanto acordado, perceber o dia ou a noite, ver o sol ou a chuva, se há vento mexendo as folhas da árvore, se pudesse ver um relógio e as horas, e os sinais inconfundíveis de uma cidade vivendo lá fora. 

Ver as pessoas da equipe passando, ou um rosto familiar, mesmo que dormindo, ao lado, para se assegurar de que não está sozinho. Por outro lado, não ficar constrangedoramente exposto ao olhar dos vizinhos de leito, ou das gentes, que passam e parecem estranhas ao ambiente da UTI; 

Dormir e repousar sem tantos barulhos assustadores, ver imagens e coisas, que lembrassem as pessoas queridas, paisagens e referências das horas calmas pelas quais vale a pena viver; 

Sentir uma brisa agradável e não o desgraçado deste vento gelado, soprando misterioso, da grelha do ar condicionado direto no rosto; 

Sentir um raiozinho de sol, morno na pele, mas não este calor bestial entrando, sem cerimônia, pela janela, zombando do ar condicionado impotente; 

Ver menos fios e tubos emaranhados se esfregando, como nas piores cenas do ‘Advogado do Diabo’. Não ver a fresta entre a luminária e os defeitos do forro, um mosquito voando, o canto superior da parede descascando, se pudesse evitar o ofuscamento do foco de luz castigando os olhos num interrogatório estranho; 

Afastar o forro, que parece empurrar meu peito para baixo, de tão perto; e se eu morrer e o caixão for tão apertado? 

Ouvir boa música, num volume bem baixinho, sentir o cheiro e ter vontade de comer um bom prato de arroz e feijão; 

Ir ao banheiro e ler o jornal ou a revista feminina do mês, com a última dieta de Hollywood e a última cura da celulite. Fazer amor, ficar de pé e sair andando. 

É o que a pessoa no leito deseja”. 

Mentalidade de DESIGNIO exige desapego do espelho e uma grande dose de humor consigo mesmo. O foco e a lupa precisam estar voltados para os usuários, colocar-se no lugar do destinatário: paciente, acompanhante, médico, enfermeira, CEO, investidor, etc – é o ponto de partida. 

Design Thinking como método:

Mas DESIGN THINKING, como método, está a serviço do DESIGNIO: você não vai desistir do cume do seu Everest porque faltou bateria no celular para seu selfie “alo galera”? Ou vai? 

Mas, se por qualquer motivo, você estiver na fase de subida na qual a sua organização está “atualizando ou rediscutindo os propósitos“, ou tateando sobre como implantar o escritório do paciente”, não se estresse, a resposta pode ser encontrada com métodos de DESIGN THINKING ou na sala de espera, com outros usuários, do consultório do analista de Bagé. 

Boa escalada a todos!


Escrito por Lauro Miquelin
CEO, Arquiteto, PhD Medical Building Design & Management, pai do Tomás e avô da Manoela.

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