por Lauro Miquelin.
“Extraviamo-nos a tal ponto que devemos estar no bom caminho” disse Fernando Pessoa em 1923 numa entrevista sobre “a crise (em Portugal) nos aspectos ético, político e moral” ….
A frase, quase centenária, mantém-se contemporânea; e se tivesse 12 mil anos ainda seria pois, desde a saída das cavernas, temos nos perdido com alguma frequência.
Lembrei da frase quando um menino de 12 anos me “entrevistou” para um Trabalho de Escola sobre a “Agenda da Saúde no Brasil Contemporâneo” (!!!).
Juntei – num vídeo tosco – temas para os quais tenho sido convidado a falar ou mediar em Congressos e Eventos recentes
Tentei simplicidade, dando exemplos: “Modelo de Remuneração Fee for Service não faz bem à saúde; mas na 2a eu começo a academia”.
Em menos de 10 min, num WhatsApp compreensivo, o menino respondeu …“não se preocupe, na minha classe é a mesma coisa, a gente ainda está falando sobre o básico”…
Sorri sem jeito
Para avançar na saúde, temos ainda que caminhar no óbvio.
Que seja.
Segue a lista que enviei ao entrevistador compreensivo.
Agradeço contribuições das almas boas.
Agenda da Saúde no Brasil Contemporâneo (versão livre dos temas frequentes, por Lauro Miquelin, guia Sherpa):
1. Propósito. As organizações de saúde existem para o paciente manter ou recuperar o Melhor Estado Possível de Bem Estar.
2. Pertinência. Médicos e demais cuidadores só devem fazer coisas pertinentes.
3. Medicina boa é baseada em Evidências.
4. Resultado. Medir desfecho clínico e resultados é bom.
5. Desperdício – de tempo, materiais, medicamentos, dinheiro – não é bom.
6. Segurança do Paciente é bom; o risco não deve aumentar quando uma pessoa entra no sistema de saúde.
7. Experiência do Paciente.
Perguntar o que o cliente quer é bom; saber e fazer o que ele precisa é muito bom.
O Paciente e seus acompanhantes não gostam de esperar e querem ir pra casa o mais rápido possível; e valorizam sorriso, gentileza, lençol e toalha limpos, comidinha, travesseiro sobressalente, ar condicionado, Netflix, controle remoto e vista pro mar ou pra Chapada dos Guimaraes.
8. Custo: conhecer, detalhadamente, é bom.
9. Modelo de Remuneração “Fee for Service” não faz bem à saúde, mas “na 2a eu começo a academia”.
10. Promoção e prevenção são excelentes, mas não eliminam redes de tratamento
11. Cuidados da saúde de gente com mais de 75 anos, em geral custam mais do que os cuidados para com os mais jovens.
12. LEAN, Design de Processos, Focus Groups, e outros Métodos, Instrumentos e Conceitos de Gestão do pós 2a Guerra e da indústria 1.0 podem turbinar a eficiência dos serviços de saúde.
13. Design Thinking, Teoria das Restrições e outras Técnicas quarentonas para Solução de Problemas fazem sentido na saúde de hoje.
14. Criatividade e Inovação oxigenam, sempre foram e são energias da evolução humana; e fazem bem à saúde.
15. Máquinas que fazem contas bem rápido e códigos e algoritmos inteligentes podem acelerar soluções de algumas coisas na saúde.
16. Interoperabilidade das tecnologias e Anjos da Guarda existem, mas poucos veem.
17. Aplicativos não são resposta para tudo.
18. Honestidade, ética e transparência são essenciais.
19. Respeito, tolerância e empatia no convívio com o outro são essenciais; mas “se não votou no meu candidato, você é uma besta”.
20. Confiança é a base das negociações saudáveis, mas não confio em quem tatua “fuck off” na testa.
21. Concentração da propriedade de Hospitais, Serviços de Diagnóstico e Operadoras de Planos de Saude pode trazer benefícios e problemas para os usuários; e certamente coloca os fornecedores (o gigante da Indústria e o vendedor de sachê de mel) na mesma fila da sopa.
22. CENSO da infraestrutura existente – prédios e equipamentos (quantidade e desempenho) – da Rede de Atendimento seria um bom começo para medir eficiência do parque atual e dimensionar Investimentos para melhorar e crescer.
23. Design de processos e prédios com foco em eficiência e “experiência” é bom. Mas Projeto devia mostrar o movimento das coisas e “experiências” das pessoas no layout, traduzindo impactos no quadro de pessoal, nos processos e nos custos da operação.
24. Ninguém lê os Manuais de Processos.
25. Não devíamos estragar o Planeta.
Esta lista não foi preparada por um robô. E certamente esqueci de algo óbvio.