Era uma vez um lugar com pessoas trabalhadoras, diversas, praias, montanhas, plantações. Um dos trabalhadores adoeceu. Os demais se cotizaram para pagar o médico e o hospital que eles próprios haviam construído; mas que precisava de doações pra medicamentos, equipamentos e manutenção.
Um deles pensou: “e se a gente juntasse todo mês um pouquinho de dinheiro pra pagar os cuidados dos que adoecessem? Todos contribuiriam, solidariamente, nem todo mundo fica doente a toda hora, todos ficariam protegidos!” Nasceram as sementes dos Sistemas de Proteção para cuidar dos doentes.
Um dos manos, viajando, conheceu um sistema que funcionava num lindo país para proteger também os que ficavam velhos e não podiam mais trabalhar. Tiveram a ideia de entregar o dinheiro para uma velhinha danada de boa, honesta, sábia, que cuidava muito bem das finanças da sua estalagem.
Logo, outras comunidades de trabalhadores passaram a copiar o modelo: consertadores de rodas de carroça, de máquinas a vapor, de alimentadores de cavalos, de pedreiros, operários de fábricas, bancários.
Um belo dia, um ecônomo propôs criar um Órgão para JUNTAR TODO O DINHEIRO DE TODOS OS COFRINHOS DAS CATEGORIAS DE TODOS os TRABALHADORES em UM SÓ COFRAO. E a chave do cofrão ficaria com um grupo de sábios em finanças, saúde, doenças, curas e velhice. Todos festejaram a ideia em volta de uma fogueira e construíram o cofrão. Tiveram um pouco de dificuldade pra escolher os sábios pois alguns opinaram que seria melhor criar regras pra eleger quem ia cuidar daquele dinheirão todo.
Não podia ser alguém com capivara suja; nem que consumisse líquidos ou fumasse ervas que alterassem comportamento e ou estado de consciência. Nem podia ter “conflito de interesses”.
Enquanto isso, um grupo bem armado instalou, com armas e alguns poucos amigos, um governo sem voto. A lista de pessoas para tomar conta do dinheirão no cofrão da saúde e da aposentadoria ficou bem pequena, pois a comunidade era feliz mas seus componentes eram estranhamente humanos. E agora os nomes tinham que ser aprovados pelos chefes armados. Escolheram o que foi possível, dadas as circunstâncias e os homens e mulheres disponíveis.
Como agora havia sistema de gestão (????) dos dinheiros, as pessoas se afastaram dos Hospitais de Comunidade que elas próprias haviam criado. E foram convidadas a esquecer do controle sobre o dinheirão do Cofrão para a Saúde e Aposentados. Os filhos se esqueceram dos papéis que os pais e avós tinham tido nas organizações filantrópicas e nos controles. Uma época de pouco papo e muito sopapo se instalou. O tempo passou, mostrando coisas boas e ruins do sistema de saúde e aposentadoria.
Alguns empresários, visionários e aproveitando o cenário sem regulação, criaram sistemas privados de cofrinhos para a saúde. E dinheiro, grande, foi sendo captado só com filmes emocionantes, premiados em Cannes, e telefonemas. Como a escala de compras era grande, estes empresários passaram a ter muita força nas negociações com médicos e hospitais e laboratórios.
Enquanto isso, os médicos pressionados pelos empresários passaram a coçar a cabeça. E um deles, destrinchando a cabeça de um peixe, pensou: porque nós médicos não criamos nosso próprio sistema de captação? E porque não tomamos conta do cofrinho? E porque não compramos os serviços dos Hospitais e Centros de Diagnósticos e Laboratórios para os quais levamos nossos pacientes?
Um belo dia – quando o lugar já havia voltado a viver Democracia, cheia de gente e complexidades – alguém falou: “Agora vamos escrever na Lei como o Sistema de Saúde e de Proteção aos Aposentados vai funcionar. E vamos separar os cofres de saúde e aposentadoria”.
Era um ano de Copa do Mundo e as pessoas gostavam muito de Futebol. Portanto, apesar de toda a boa vontade e dos patriotas, alguns temas foram tratados no devaneio dos sonhos da bola e do final da Ditadura. E com o pragmatismo que os Lobistas de Grupos de Interesse atuam. Tudo seria dado mas as contas sobre custos não eram muito boas. A nova Lei foi a possível, dadas as circunstâncias e os homens e mulheres disponíveis, estranhamente humanos. O tempo passou, mostrando coisas boas e ruins do sistema.
Tabelas de preços de serviços – médicos, hospitalares -, medicamentos e OPME, foram criadas com Lobistas e Patriotas sob a crença de que todos seriam honestos sobre a pertinência da prescrição de cuidados; e pré-dispostos a dialogar com profissionalismo e racionalidade sobre preços e custos.
No meio do caminho surgiu um dragão, alimentado por atitudes erradas das pessoas da comunidade e seus representantes. O Dragão da Inflação acabou com a coerência entre Preços e Custos das Tabelas.
Comportamentos que criaram o Dragão da Inflação aumentaram o problema: Preguiça e Comodismo; muitas pessoas não queriam enfrentar o trabalho de criar protocolos, detalhar processos e apurar custos de entregar saúde. Nem empossar profissionais preparados para o desafio. Ganância; “se posso ganhar mais, porque ganhar o suficiente?” Desonestidade; “se o sistema tem brechas, porque não enganar os outros para meu benefício?” Desespero pela sobrevivência: “ou apresento as contas como previsto no sistema e afundo a organização, ou fraudo as contas e mantenho o barco navegando”
Pessoas que haviam criado fábricas de medicamentos passaram a ver aquele dinheirão dos cofrinhos com olhos muito interessados.
No meio do caminho, uns meninos muito bons em matemática e em escrever códigos com zeros e uns inventaram máquinas que passaram a fazer contas muito rapidamente. Captaram dinheiro com investidores.
Mais ou menos ao mesmo tempo, um empresário visionário juntou-se a investidores. E sobre a lógica da força da escala de compras, eles começaram a construir uma rede de hospitais num lugar muito lindo. Como o lugar era lindo mas pequeno em comparação com a vastidão do país, e vivia um período muito violento e sem governo, o empresário e os investidores saíram às compras em outras praias e planícies. Antes das praias compraram a única rede privada de 3 hospitais que atuava num lugar rico e populoso. O EBITDA que passaram a colher atraiu a atenção de mais investidores para criação de novas redes de Hospitais, Diagnósticos, Cuidados ao Idoso etc .
Os Governos foram ajudando e atrapalhando o sistema, não necessariamente pra funcionar melhor para os Pacientes… Bom… as pessoas da fábula não vinham sendo muito sábias na escolha de pessoas para governar. E os lobistas sempre eram mais rápidos que os governantes. Alguns, muito mais malvados que o Lobo Mau, corrompiam agentes dos Governos e até das Organizações Privadas.
Quando tudo passou a dar muito errado, pessoas com capinhas e códigos da Lei passaram a intervir: o sistema não estava mais funcionando para o bem do paciente.
Nesta fábula, muitas pessoas morreram sem atendimento, ou com atendimento ruim; outras usaram o sistema e viveram histórias de felicidade.
Todos os agentes da fábula sabem o que precisa ser feito pra solucionar os problemas e erguer o Sistema de Saúde a altura do que deve ser: uma estrutura segura que as pessoas com suas genéticas, escolhas e comportamentos possam usar na busca do melhor estado possível de bem estar.
A moral da fábula? Quando os agentes das cadeias de valor da saúde não saem de suas trincheiras e não se colocam à altura, os pacientes e empresas que pagam a conta do sistema o fazem. Jeff Bezzos, Amazon, Warren Buffet, Berkshire Hathaway & Jamie Dimon J P Morgan Chase estão só começando.